Unigran Saúde explica o papel do fisioterapeuta no tratamento da Covid-19
Dr. Renato Nacer – coordenador do curso de Fisioterapia da Unigran Capital – explica sobre o papel do profissional e as diversas áreas de atuação do fisioterapeuta
Desde o início da pandemia, pesquisadores do mundo inteiro buscam desvendar a ação do Sars-CoV-2 (novo coronavírus) no corpo humano. O vírus ataca diversos órgãos além dos pulmões, provoca alterações na circulação e pode levar à morte por insuficiência pulmonar ou deixar sequelas físicas, cognitivas e psicológicas, com diversos graus.
Embora as sequelas pós-Covid sejam mais comuns em pacientes que desenvolveram a forma grave da doença, pessoas que apresentaram a forma moderada da doença e que não chegaram a ser hospitalizadas também podem ter algum grau de comprometimento e sequelas.
Um dos profissionais que atua junto aos pacientes que tiveram Covid-19 é o fisioterapeuta. Seja como parte da equipe de atendimento nas unidades de terapia intensiva ou trabalhando na recuperação do paciente pós-internação, o fisioterapeuta é um profissional de fundamental importância para o sucesso do tratamento dos pacientes com Covid-19.
Nas hospitalizações por Covid-19, a fisioterapia pode acelerar a recuperação do paciente, diminuir a necessidade de medicamentos e o risco de sequelas após a internação. Nos hospitais, o profissional de fisioterapia é importante tanto para o fortalecimento da capacidade pulmonar nos casos menos graves quanto para a execução de procedimentos em pacientes de UTI.
Os objetivos principais da fisioterapia na reabilitação de pacientes com sequelas da Covid-19 são promover alívio de sintomas, tratar e prevenir complicações respiratórias, cardiovasculares, musculoesqueléticas e neurológicas, proporcionar restabelecimento da qualidade de vida e retorno às atividades laborais, sociais e esportivas.
Para falar sobre o tema, o Unigran Saúde convidou o Dr. Renato Nacer - coordenador do curso de Fisioterapia da Unigran Capital - para explicar sobre o papel do profissional no tratamento da Covid-19 e as diversas áreas de atuação do fisioterapeuta na Saúde.
É importante lembrar que o vírus da Covid-19 pode afetar órgãos e sistemas do corpo e as sequelas são variadas. Portanto, uma avaliação individualizada que contemple aspectos físicos, funcionais e de participação é fundamental para definição do plano terapêutico.
Unigran Saúde: Como atua o profissional de fisioterapia nesse contexto de pandemia e quais são as atribuições do fisioterapeuta?
Renato Nacer: O espectro clínico da infecção por Sars-CoV-2 é muito amplo e os principais sintomas envolvem tosse, febre e, do ponto de vista fisioterapêutico, os mais relevantes seriam, o cansaço, fadiga, falta de ar, dor muscular e o mal estar geral. Na admissão do paciente em ambiente hospitalar, o fisioterapeuta é o principal responsável pela manutenção da função pulmonar desses pacientes. Muitos deles precisam de suplementação de oxigênio e é o fisioterapeuta o profissional responsável pela instituição dessa oferta.
Alguns desses pacientes podem evoluir com o agravamento do quadro e desenvolver uma síndrome respiratória aguda grave, e nesses casos, vão precisar de ventilação mecânica. O fisioterapeuta dentro da unidade de terapia intensiva é o profissional responsável pelo manejo da ventilação mecânica, estabelecendo os modos ventilatórios e os parâmetros da ventilação mecânica.
É importante que as pessoas saibam que aqueles pacientes que desenvolvem insuficiência respiratória hipoxêmica persistente (que são aqueles casos que a pessoa tem muita falta de ar e que não melhora mesmo depois de colocar o oxigênio, mesmo depois de tentar estratégias ventilatórias não invasivas, ou a cânula nasal de alto fluxo) a indicação é a ventilação mecânica invasiva.
É preciso desmistificar a intubação orotraqueal e a instituição da ventilação mecânica invasiva, porque protelar a ventilação mecânica pode envolver riscos a esse paciente.
Unigran Saúde: O que é a chamada síndrome pós-Covid, quais são os sintomas e como o fisioterapeuta atua nessa situação?
Renato Nacer: Após a alta hospitalar, os pacientes podem desenvolver o que nós chamamos de síndrome pós-Covid e nesse momento, ele vai precisar muito da assistência fisioterapêutica. Essa síndrome é caracterizada por uma série de alterações no sistema cardiopulmonar e musculoesquelético que envolvem a fraqueza muscular, diminuição da mobilidade, alteração de equilíbrio, função muscular prejudicada, e muitos deles apresentam dificuldade em realizar atividades que antes eram fáceis de fazer como tomar banho, fazer a própria comida e vestir uma roupa.
Neste momento, o fisioterapeuta vai trabalhar principalmente com exercícios terapêuticos, prescrever exercícios aeróbicos para àqueles pacientes que têm descondicionamento físico, prescrever exercícios de fortalecimento muscular para os pacientes que apresentam fraqueza muscular, trabalhar com exercícios que estimulem a participação ativa desse paciente nas atividades cotidianas e nas atividades laborais que ele precisa desenvolver. O processo pode durar em torno de 2 a 3 meses.
Unigran Saúde: Quando uma pessoa que teve Covid observar esses sintomas, é necessário passar por algum especialista antes de procurar o fisioterapeuta?
Renato Nacer: Algumas pessoas após a alta hospitalar, mesmo aquelas que não desenvolveram formas graves, ainda apresentam algumas sequelas relacionadas à síndrome pós-Covid, então nesses casos, as pessoas precisam procurar um fisioterapeuta. Não é necessário uma prescrição ou um encaminhamento de outro especialista para que essa pessoa procure um fisioterapeuta. O fisioterapeuta é um profissional de primeiro contato e é quem vai estabelecer a frequência dos atendimentos e o tempo do tratamento junto com o paciente.
Então, quem teve Covid e ainda tem sintomas ou sequelas da síndrome pós-Covid, pode procurar um fisioterapeuta, porque ele é o profissional adequado para devolver a qualidade de vida e a forma como a pessoa vivia antes do desenvolvimento da doença.
Unigran Saúde: Como é a atuação do fisioterapeuta que atua no atendimento domiciliar em atendimento aos pacientes de pós-Covid?
Renato Nacer: Uma das formas de atuação do fisioterapeuta é no ambiente domiciliar, indo às casas dos pacientes para realizar o atendimento. Então, para aqueles pacientes que têm dificuldade de se deslocar até a clínica ou até o consultório fisioterapêutico, o fisioterapeuta vai até a casa desses pacientes e realiza o atendimento no ambiente domiciliar. Para isso, é extremamente importante que o fisioterapeuta além de dominar as técnicas e os procedimentos seja um profissional criativo, porque ao chegar à casa do paciente ele vai ter que utilizar do seu conhecimento para poder prescrever os exercícios e os procedimentos necessários para tratar aquele paciente.
Unigran Saúde: Além de trabalhar com o atendimento a pacientes com Covid intra-hospitalar e no pós-Covid, o fisioterapeuta tem inúmeras outras áreas de atuação.
Renato Nacer: Sim. Atualmente o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional reconhece 15 especialidades, fora as diferentes áreas e locais em que o fisioterapeuta pode atuar. O fisioterapeuta durante muito tempo foi rotulado como profissional da reabilitação, como se só fosse o reabilitador, mas, o fisioterapeuta é um profissional extremamente importante na atenção primária à saúde, quando trabalha com prevenção de agravos à saúde e com a promoção da saúde.
Unigran Saúde: De que maneira o profissional fisioterapeuta atua na promoção da saúde e na prevenção dos agravos da saúde?
Renato Nacer: O fisioterapeuta atua fazendo parte da equipe do NASF (Núcleo Ampliado de Saúde da Família) na atenção básica. É extremamente importante que todos saibam que o fisioterapeuta é também um profissional da prevenção, e que não atua somente com reabilitação.